Quando eu era criança, ou melhor pré-adolescente, eu perguntava a ele se eu podia ir ali na padaria com minhas amigas. A resposta era sempre a mesma. Ele falava NÃO! Não e não e não e não e não... Sempre era não! Quando cresci um pouco mais, e entrei na adolescência, cheguei a seguinte conclusão: Não pergunto mais se posso fazer algo ao meu pai porque já sei a resposta. Perguntava então a minha mãe, que na minha opinião era mais sensata, e pelo menos quando me dizia não justificava o porquê. E assim foi até o último dia de meu pai na Terra. Ele também era assim com minha mãe e claro com o passarinho... Aliás, Pretinho III é o motivo desse relato tão íntimo. Meu pai era apaixonado por pássaros! Ele era feliz cuidando deles. Ele sentiu revolta quando roubaram Pretinho II da gaiola que ficou sozinha por uns instantes na varanda. Ele ficou com o coração partido quando Pretinho I morreu.
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Hoje eu precisei cuidar de Pretinho III. Estava conversando com ele enquanto limpava a gaiola. Eu disse a ele que não concordo nem um pouco com essa forma com que ele é forçado a viver . Mas, meu pai o amava. Depois que meu pai se foi minha mãe se agarrou ao Pretinho III de uma tal forma. Se eu digo que não cuidarei dele, ela chega a chorar. Acho que de certa forma ela sente a presença do meu pai nele. O ato de cuidar dele faria meu pai feliz ou sei lá... O fato é que eu precisei cuidar dele, mesmo não concordando com aquela prisão, por amor a minha mãe e até mesmo ao meu pai. Mas, eu prometi para Pretinho III que irei lutar, de alguma forma, apesar de ainda não saber exatamente como, para que outros como ele não tenham esse destino triste de viver encarcerado sem ter praticado crime algum. Daí comecei a luta com esse simples texto. Falar do meu pai, mesmo que dos defeitos (ele não era santo e nem eu sou) é uma forma de expressar o amor que tenho por ele... Estranho isso... mas é! Aliás, se eu não me controlar, meu amor também pode ser possessivo, mas não com os animais. Isso garanto!
Ass: Anna Cecilia Fontoura Laranja
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